segunda-feira, 21 de março de 2011

Novo Começo






















"Ano novo - vida nova", uma expressão tão banal quanto disparatada, já que a vida não muda porque somamos uma unidade ao ano cronológico.


Já pensava no ano passado o mesmo quando o ano mudou. Digamos que esse ano foi um ano à procura de coisas que não encontrei, estabilidade social, amorosa e financeira. Comprei uma casa pelo menos, não era esse um dos meus grandes sonhos? Pois era. E depois de comprar a casa pensei "e agora? para que quero eu um t3 se moro sozinha e não perspectivo um futuro aqui? a casa é boa, o sítio pacífico, cheio de sol, super limpo, o sino da igreja até passa despercebido...mas estou no cu de Judas! A trinta quilómetros do meu local de trabalho, a muitos euros de arranjo do carro e filas intermináveis para regressar a casa ou quando entro às oito e um quarto da manhã.

Estabilidade social... onde é que no cu de Judas se encontra isso? Após nove meses a viver naquela casa não estabeleci um único contacto social com alguém da localidade. Assim que entrava em casa apenas saía para despejar o lixo ou levar a cadela a passear, os vizinhos mal os via, as compras muitas vezes fazia perto do local de trabalho, resumindo, ia a casa dormir apenas (sem contar com coisas associadas a isso, as quais não necessito mencionar por se partir do princípio que quando se fala em dormir, fala-se em comer e mudar de roupa).

Estabilidade amorosa, deixa ver... não chegou a um ano, e foi bem atribulado, cheio de discussões pirosas, se é que se lhes pode chamar assim, mas quando se discute os perigos de descongelar pão e carne crua no mesmo recipiente penso que se trata de uma discussão pirosa e inútil, quando uma das partes acha que não faz mal porque vai tudo parar ao mesmo sítio, se é que me entendem... adiante, uma relação com discussões não é normal, digam o que disserem, uma discussão resulta de quando duas pessoas lutam por ter razão no seu ponto de vista, quando não conseguem comunicar ou quando os seus níveis linguísticos não estão equilibrados e o que para mim é preto para outra pessoa pode ser castanho sujo...e acaba tudo em discussão, afastamento físico e esgotamento mental e eu esgotei-me. Se há coisa que não aguento é pessoas que me massacram com assuntos de treta e querem ter razão só porque sim mesmo que saibam que estão a dizer um grande disparate.

Estabilidade financeira...o que é isso? Prestação ao banco e seguros da casa, somando a gasolina, as portagens, os arranjos do carro, a gasolina e o tempo gastos no trânsito (cheguei a levar quase três horas para fazer um percurso que demora vinte minutos), a paciência...ao fim do mês sobravam-me o quê? uns trinta euros e não ganho assim tão mal.

Um dia acordei e disse: vou por a casa à venda e vou morar para a minha terra natal, que foi o que sempre quis, certo? E assim foi sem pesar os prós e os contras, as despesas que ia ter, os prejuízos tento em conta que não ia lucrar com a venda, o desgaste de ver casas novamente pela n-ésima vez. Atirei-me de cabeça, ou não fosse eu uma pessoa com excesso de energia masculina ou quem sabe, excesso de parvoíce. Em três semanas tinha um casal interessado na casa - "porreiro" pensei e comecei a ver casas.

Novembro - proposta de venda da casa feita.
Dezembro - proposta de compra da casa feita - outro belo t3 com duas casas de banho completas com janela, parqueamento e arrecadação, lareira na sala, duas belas varandas e uma sala cheia de janelas. Era a casa perfeita!

Janeiro - o processo no banco arrastou-se porque comecei a pensar: ir e vir todos os dias equivale a quatro horas diárias em transportes públicos, a possíveis atrasos, a chegar a casa tardíssimo e não ter tempo para curtir a casa, a logística de se ter um cão também não é simples de gerir quando se trabalha a noventa quilómetros do sítio onde se mora (pois... ia comprar casa a essa distância)...e um dia acordo e olho-me no espelho e penso: " não é isto que quero para mim, já não sei se quero vender a casa mas o contrato já está feito e não tenho como voltar atrás porque implica a módica quantia de dez mil euros...".

Janeiro - toca a procurar casa perto do trabalho. Tudo caríssimo, o melhor que encontrei foi um t1 com terraço que dava para o animal, garagem fechada e arrecadação . Bem bom até ao dia em que o pensasse vender e ninguém iria querer comprar um t1.

E entusiasmei-me com a compra do t1 até que me marcaram a escritura da venda da casa para dia quatro de Fevereiro e eu nem tinha a avaliação da casa feita para me poder mudar. A avaliação podia correr mal e eu não conseguir o empréstimo, e sempre o pensamento: "a escritura é para breve e não tenho para onde ir, ou melhor, onde enfiar os meus dois sofás gigantes e o resto dos móveis. O que vou eu fazer? Alugar? Mas as rendas são para cima de quinhentos euros e eu não tenho mil para dar de entrada!"

Eu só deitava as mãos à cabeça. Tinha uma viagem marcada para o final de Janeiro e não tinha dinheiro e não tinha tempo nem sítio para ficar depois de vendida a casa, até uma preciosa ajuda surgir. Foi assim uma coisa decidida à ultima da hora, mas a ajuda é que me safou.

Consegui o dinheiro para alugar uma casa. Então pus-me novamente à procura de casa mas desta vez para alugar, com terraço ou varandas para poder ter a cadela. A primeira casa era óptima e tinha um bom terraço mas foi alugada no dia a seguir a te-la visto. Então procurei mais e encontrei uma que gostei mas no dia do contrato o dono da casa avisou que não a podia vagar antes do final do mês e o contrato ficou em efeito. Nesse mesmo dia fez-se mais uma corrida contra o tempo para ver uma ultima casa, desta vez sem terraço ou varandas e uma renda mais elevada mas, mais perto do meu trabalho. Para meu espanto nesse dia, estava também para mostrar a casa, o agente que me mostrou a primeira casa com terraço que no dia seguinte ficou reservada - "como o mundo é pequeno" pensei, "desta vez é o teu cliente que fica a chuchar no dedo!"

A mudança foi feita assim que regressei da minha viagem. Demorei uma semana a conseguir por tudo aqui em casa...

Ano Novo - Casa Nova: uma alegre casinha num prédio com mais de trinta anos, com vizinhos chatos, velhos que embirram com tudo e para quem dar um traque incomoda porque é barulho a mais. Não tenho varandas, só tenho sol de manhã na cozinha e no meu quarto, com a chegada do Verão terei mais sol na sala mas só antes do sol se pôr, o local é movimentado e barulhento, não tenho garagem ou parqueamento, nem sequer tenho forno na cozinha. Volta e meia aparecem bichos de prata nas paredes, armários da cozinha e até na minha cama.

Resumindo - passei de cavalo para burro? Sim passei, temporariamente até me restabelecer, mas apenas a nível de casa e carteira, porque de resto o ano velho teve um desfecho espectacular e este ano promete muita coisa boa.