quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Fantasmas no Sótão - Reflexão, parte 2

Apesar de não estar racionalmente apta para chegar a que conclusão fosse, partindo de uma análise superficial e baseada em recordações cheias de teias de aranha e mesmo sabendo que só iria resolver esta situação se a enfrentasse cara-a-cara, ponderei o passado, o presente e o futuro, possibilidades, contexto actual, factos, perspectivas, barreiras e constrangimentos ou recompensas. Diga-se que não é fácil, não é como fazer uma tabela com colunas e colocar os prós e os contras. Não há recordação passada que se possa comparar com o presente sem ter sido deturpada pelo tempo e por vezes tenho tendência a exagerar e considerar o passado mais gratificante que o presente.
Passado é passado, o presente constrói-se agora com os nossos actos e depressa se converte em futuro, embora não considere o futuro imediato (“o amanhã depois do agora”) como futuro, o futuro é algo que se projecta a médio prazo, por vezes a longo. A ideia que tenho de futuro, é que se trata de algo lá ao longe, parado à minha espera, como uma meta que tenho que alcançar e até lá tenho que dar os passos certos, seguir os caminhos directos sem desvios para colher os frutos no futuro.
Se errar nalgum caminho, tiver que recuar e recomeçar de algum ponto, o tempo que tenho para cumprir os objectivos que me levam até à meta começa a escassear o que pode soar estranho, pois a vida dá muitas voltas o que é natural e inerente à condição de ser Humano, mas se analisar com atenção, os anos passam e os objectivos que projectamos no futuro a longo prazo podem ser adiados, especialmente sendo mulher e não sei se afecta a todas mas, a ideia de ser mãe, quando estamos perto dos trinta, parece uma realidade cada vez mais distante.

Nos meus receios, e sendo sobretudo racional, construir uma relação que evolua ao ponto de gerar pequeninas pessoas, pode demorar muito tempo, por vezes demasiado dependendo de factores como a maturidade de cada um, a independência e a situação profissional. Não basta ter trinta e cinco anos para ser maduro, há crianças grandes por todo o lado, tal como não basta ter emprego, é preciso maturidade para saber gerir um ordenado na sociedade consumista e descartável que nos educou. A independência obtém-se com um emprego que permita sair da casa dos pais, o que não é necessariamente sinónimo de maturidade porque há muito homenzinho que sai de casa dos pais para poder viver num pandemónio sem receber ordens de adultos “a sério” e poder fazer festas todos os dias, o que leva a esbanjar todo o ordenado numa semana na pior das hipóteses, tornando-se automaticamente dependente dos pais porque se acabou o dinheiro, ou de instituições de crédito. Há muita gente que vive fora da casa dos pais mas depende deles para pagar a renda ou os estudos, apesar deste ultimo grupo ter condições especiais e não se enquadrar nesta reflexão. Ora, uma criança não se faz do nada, embora haja muita gente que, quase como que por magia, dá à luz uma criança sem ter percorrido o dito caminho espinhoso e cheio de curvas, o que parece bastante prático mas duvido que seja igualmente gratificante. Uma criança deveria nascer de uma relação sólida, e uma relação sólida não se constrói, a meu ver, num ano ou dois. Em quanto tempo uma relação evolui para se tornar sólida o suficiente para poder prosseguir? E se ao fim de um ano se chega à conclusão de que se desperdiçou tempo e a relação que se construiu nesse espaço não tem pernas para andar ou precisa ser reajustada para evoluir? Recomeça-se com uma relação diferente? Recomeça-se com a mesma pessoa mas noutros moldes? E se esse recomeço também não der frutos? Quanto tempo se perde? Tudo isto conta muito quando se é mulher e tem perto de trinta anos e eu perco muito tempo a pensar nisto.