terça-feira, 23 de novembro de 2010

Adeus Fantasma


Um dia, dei comigo a trocar emails com o meu fantasma, transportando nas minhas palavras observações racionais do que já não sentia, mas sempre com os sentidos da compreensão e da calma activos. Queria transmitir uma mensagem de "acabou mas vamos em PAZ".

O ser humano pode sem querer, associar a um local, a um objecto, a uma casa, a uma pessoa emoções, e quanto mais fortes forem as emoções vividas, maior é a força da associação. Por vezes essas associações impedem-nos de evoluir, porque temos os pés presos ao passado, e enquanto não nos libertarmos, não podemos andar para a frente, sem que a dada altura em que nos sintamos fracos, olhemos para trás e nos foquemos no peso que trazemos e que nos faz ter medo, acabando por ficar a pensar se vale a pena recuar e ir lá fazer-lhe festinhas, conversar com o peso e fazer com que ele fique mais leve dessa forma.

A dada altura, do outro lado, recebi emails a desejar-me infelicidade, a julgar-me por actos que fiz de consciência tranquila. Alguém que um dia julguei conhecer acabara de se transformar num estranho, numa pessoa que só me transmitia negatividade.

Cansada, saturada e decidida a ultrapassar aquele fantasma, comecei a escrever num bloco sobre algumas das espadas afiadas que vinham nesses mails, como forma de deitar cá para fora o que já estava a ocupar demasiado espaço há demasiado tempo. Felizmente os mails acabaram, para o fim já só eram frases escritas no campo Assunto com frases provocatórias e massacrantes. Se já não entendia como é que uma pessoa que se dizia loucamente apaixonada me podia dedicar tais palavras, nem sequer o entendia quando me deparava com enigmas, palavras pouco claras e ideias confusas, cheguei então ao ponto de simplesmente deixar de tentar perceber.

Penso que ter vários relacionamentos ao longo da vida, do meu ponto de vista, é uma forma de andar para a frente, se um deles não dá certo, acaba-se e a vida continua. Não é motivo para nos criticarem, muito menos para nos condenarmos a uma vida solitária e sem amor ou tentar recuperar um passado a todo o custo sem qualquer fundamento nem ligação entre o passado e o presente. Posso-me orgulhar de ter conhecido pessoas fantásticas e que hoje fazem parte do meu jardim de amigos preciosos. Tentei sempre ser feliz e realizar uma parte de mim com todas elas e também me ajudaram a crescer.

Ao contrário do que me disse o fantasma, eu sei que serei feliz com alguém sim. Sei que viverei emoções fortes com outra pessoa sim. Sei que cada pessoa nos marca de forma diferente, mas também sei que é no andar para a frente que se faz o caminho, não no ficar parada a olhar e a mirar o passado como se fosse uma montra de uma loja com coisas que não posso comprar.

A minha felicidade depende só de mim, da minha concretização pessoal e do sucesso com que alcanço os meus objectivos, não de ter alguém na minha vida, não é esse o papel que quero que a outra pessoa desempenhe. Ser feliz é muito mais abrangente do que ter um relacionamento amoroso.

Não quero sentir, que a minha ideia de relação perfeita se referencia àquele momento que vivi há não sei quanto tempo atrás e que em felicidade se resumiu a apenas três meses. Todo o tempo posterior a isso tem sido negativo, inclusive com episódios de troca de palavras amargas e cruéis, até ao dia em que escrevi estas anotações.

Embora ainda me viessem à memória recordações, pensamentos associados ao fantasma, as mesmas depressa se convertiam em nada, afastando-me das emoções negativas que me causavam. Comecei a sentir-me mais leve e as recordações deixaram de ter o mesmo impacto devastador e sensação de infelicidade, frustração ou desespero. Começava a desassociar a emoção do fantasma.

Decidi que não queria mais arrastar aquele peso, ano após ano, que me impedia de me entregar completamente a uma nova relação, ou pelo menos, de a ver como algo bom e bonito entre duas pessoas, que embora pudesse não ser igual ao que vivi no passado, seria igualmente positivo e construtivo.

Aceitar o fantasma de volta na minha vida, implicaria mudar a minha forma de ver a amizade, implicaria afastar-me dos meus amigos, implicaria tornar-me preconceituosa e deixar de conviver com pessoas do sexo oposto por um dia termos tentado criar algo mais que amizade. Implicaria mudar a minha forma de ser, deixar de ser eu. Não queria isso e não quero. Quem vier, terá de aceitar que os meus amigos e amigas são importantes para mim, são pessoas, pelas quais sinto amor, pelas quais choro e rio. São a minha família, são o meu suporte, são quem me aceita incondicionalmente, esteja eu bem-humorada ou resinguenta.

Foi aí que percebi, que uma relação é um gesto de partilha, não uma eliminação de algo na outra pessoa. Não uma anulação de uma parte nossa em função do outro.

Decidi por fim, e hoje sinto que consegui, alcançar uma série de coisas que fazem todo o sentido de ser:
-estar bem comigo mesma mesmo estando sozinha,
-rir sozinha,
-alcançar coisas sozinha,
-sentir amor e paixão por mim mesma,
-olhar a natureza decifrando a sua beleza,
-transmitir mais energia positiva,
-ser mais altruísta e partilhar mais.