domingo, 28 de novembro de 2010
Nova Era
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Adeus Fantasma

terça-feira, 9 de novembro de 2010
Fantasmas - O Agora (que já foi ontem..é passado) - Parte 6

sexta-feira, 5 de novembro de 2010
Fantasmas - O Futuro - Parte 5
Que futuro terei eu ao lado de um homem que tem um filho de outra mulher, sabendo eu que um dia quererei ter os meus filhos e que para ele não serão os seus primeiros filhos? Morando a mais de trezentos quilómetros um do outro e supondo que não vai largar a quinta e os animais, a casa que está a construir e a pista de MotoCross para vir viver para arredores de Lisboa, como nos vamos conhecer melhor, como vamos colmatar os anos todos que tivemos separados, unindo assim o passado ao futuro e voltar a sentir o que sentimos antes (ou quem sabe já não há nada para sentir)? Sendo racional mais uma vez: estou efectiva numa escola na zona de Lisboa, comprei casa nos arredores, estava a construir uma relação geograficamente perto da minha casa, aliás, comprei a casa perto do meu então namorado precisamente para poder fazer crescer a relação, desisti dos planos de viver na minha terra natal ao desistir do destacamento para aproximação à residência, investi numa relação que durou quase um ano e meti a minha vida a mexer e agora vou largar tudo para ir ter com um homem que se diz infeliz mas ainda assim mantém uma relação só para não ficar sozinho, ou porque é cómodo ter alguém seguro do seu lado? Sinceramente acho que não e acho que não estou a ser cobarde ou demasiado racional, é um misto dos dois mecanismos. Posso estar a ser cobarde por ter medo de a relação falhar, por ter como exemplo o facto de o meu pai ter deixado a minha mãe quando eu ainda era um bebé de colo e nunca mais querer saber de nós, por me ter arranjado uma madrasta e uma meia-irmã e por lhe dar a sensação de família feliz que nunca tive, posso estar com medo de ele voltar para a mãe do filho primogénito ou nunca ser totalmente dedicado ora a um lado ora a outro, mas posso simplesmente estar a ver as coisas do seu lado prático ou falta dele. Ter duas famílias, neste caso concreto não me parece uma boa gestão, ter um filho cujo acompanhamento parental não será efectivo por não poder estar presente todos os dias, semanas ou meses porque geograficamente se traduz em algo economicamente inviável irá trazer infelicidade a mais para um dos lados e vai levar a conflitos. Não estou a ser demasiado cobarde ou racional, estou apenas a ser cautelosa, tenho de o ser pois neste caso, neste momento que é o presente, não existe nada que alimente um futuro, existe apenas a recordação do passado. Pouca comunicação existe, não há presença, não há continuidade, não há nada. Há um vazio. E no fundo eu sei que não quero ser a madrasta de ninguém. Ao mesmo tempo que digo para mim mesma: tenho que enfrentar isto cara-a-cara, outra parte de mim diz-me que existem já demasiados factores que impedem a aproximação. Para ele nada é impeditivo, talvez até esteja correcto e talvez eu já não sinta a mesma força incontrolável que nos uniu na altura, se sentisse também iria dizer que nada é impeditivo.
Quanto ao futuro, não há futuro, geograficamente não se chegou a quebrar a barreira porque decidi que não vale a pena, se estou enganada nunca poderei saber, resta-me portanto aceitar que me decidi não sofrer mais por isto, passou e vá em paz que de paz também eu preciso.
O fantasma ganhou talvez outra forma, ao contrário de uma forma material uma forma gasosa, esfumando-se, evaporando-se e desaparecendo no ar, pelo menos assim o quero crer, quero acreditar que isto desapareceu de vez, o homem perfeito que era o fantasma a quem neguei tantas vezes a tentativa de reconciliação deixou de ser perfeito, vai ser pai, mal ou bem está a seguir com a sua vida para a frente e eu tenho de fazer o mesmo com a minha. Não fui e não vou atrás daquilo que julgava ser o correcto e desta vez, é o meu instinto automático que mo diz para não fazer.
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Fantasmas - O Presente - Parte 4

O presente é para mim aquilo que estou a viver agora, amanhã direi “hoje é presente” e será sempre presente cada dia em que acordar. Porém hoje, digo “amanhã é futuro”, “daqui por vários anos é o futuro a longo prazo”, o dia de amanhã literalmente é futuro relativamente há vários anos atrás, mas não deixa de ser presente, é o presente de amanhã relativamente ao momento presente em que me encontro agora.
Presentemente terminei uma relação de quase um ano, com altos e baixos como qualquer relação, dúvidas acerca dos motivos da relação e da força da mesma, aspectos que foram postos em causa, ora por haver ainda um fantasma, ora por discussões recentes que a deixaram tremida. Isto levanta duas questões: será que esse fantasma surgiu porque a relação não estava assim tão boa e como tal deu espaço para pensar no passado, na ilusão que criei de que o passado foi melhor que o presente? Ou será que esse fantasma é que veio arrasar com tudo, por mais perfeita - ainda que não existam relações perfeitas - que a relação fosse iria fracassar como se assim estivesse pré-destinado? O que é a causa, o que é o efeito? Não é fácil distinguir. Por um lado existe a razão a tentar filtrar factos passados e actuais e chegar a resultados, tirar conclusões, perceber de onde vem o problema, equacionar vantagens e desvantagens, qual o risco, qual o proveito, controlo e calculismo, mecanismos racionais e até certo ponto inteligentes e seguros, por outro, existe o emocional a dizer que o meu sexto sentido estava realmente correcto, ainda que o meu medo fosse mais forte que o desejo de seguir os meus instintos. O medo atrapalha-me mas previne-me de cair em asneira, será o medo um mecanismo racional apesar da sua definição científica[1]? Serei cobarde ao ponto de deixar a felicidade fugir-me das mãos por ter medo de ir atrás dela e pô-la à prova? O que tenho eu concretamente agora e o que tenho a perder? Além de recordações arrumadas no passado, pouco contacto existe com o dito fantasma. Não tinha o número de telemóvel, bloqueei os contactos do Messenger e sabia que ele também tinha bloqueado os meus, separava-nos uma distância geográfica de mais de trezentos quilómetros, para além de existir a minha actual relação em standby existe a actual relação dele. Tirando a barreira geográfica, as outras barreiras foram vencidas, até foi relativamente fácil encontrar o contacto telefónico dele, uma rápida pesquisa na internet e consegui encontrá-lo no sítio publicitário da sua pista de MotoCross que aluga à hora. Primeiros obstáculos ultrapassados consegui entrar em contacto com o fantasma, que já não era fantasma, ou pelo menos começava a ganhar corpo, já tinha algo do outro lado, do lado de lá de trezentos quilómetros para norte, a comunicar comigo. Já tinha como alimentar emoções e recordações com base no presente e não apenas com base nas recordações do passado. Para o fantasma também eu era um fantasma, éramos os fantasmas de um envolvimento no passado e estávamos a viajar até ao presente para nos materializarmos se conseguíssemos ultrapassar a barreira geográfica. A barreira geográfica é perfeitamente transponível bastando para isso apanhar um autocarro ou agarrar no carro e fazer-me à estrada. Dessa forma poderia finalmente completar essa materialização e encarar o meu fantasma em carne e osso, poderia finalmente compreender os meus sentimentos, varrer esta nuvem cinzenta e turva que paira sobre a minha cabeça desde que ele se foi embora do estabelecimento de ensino onde nos conhecemos, poderia vir a ser feliz com ele. Será que ainda iria sentir as mesmas coisas? Cada vez que falava com ele por mensagem ou via Messenger o coração ficava mais perto da boca, as emoções vinham ao de cima, o desejo de um reencontro era mútuo, o medo e insegurança um no outro que se foi criando ao longo deste tempo também era partilhado mas ia ser ultrapassado, agora que eu estava decidida a vencer tudo e todos e agarrar esta oportunidade com as duas mãos, deixar para trás a cobardia e enfrentar o passado, tornando-o presente. Mas nem tudo é tão simples, o tempo e as mudanças que traz à vida de cada um podem ser desmoralizadoras e devastadoras. Num dos meus contactos mais recentes com ele tive a notícia de que vai ser pai. Recebi a informação por mensagem no telemóvel, fiquei a olhar para as palavras escritas no ecrã a ver se tinha lido bem. Li bem. Li, não li? Li pois. Vai ser pai, apesar de não morar junto com a mãe da criança, apesar de se lamentar da sua vida sem paixão e emoção com a qual se conformou, segundo parece anda conformado há mais de dez anos. Tão-pouco vivem na mesma cidade. Não ama mas vai ser pai. Quão irresponsável, pensei, ainda assim dei-lhe os parabéns.
[1] O medo é uma emoção básica, que coloca o nosso organismo em sobre-alerta e o prepara para fugir e/ou defender-se perante a percepção de perigo. Ao falarmos de medos, devemos encará-los enquanto emoção saudável, com uma função adaptativa: alertar para os perigos que rodeiam. in http://educacaodeinfancia.com/o-medo-na-crianca/
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Fantasmas no Sótão- O Passado - Parte 3

O “passado” passado mas que ainda se projecta no presente, é isso que me assombra. Recordações de um passado supostamente feliz ou assim recordado, sobrepõe-se ao meu presente e àquilo que sinto agora - “não sou feliz” “era tão feliz”, “não sinto isto” “dantes, sentia uma coisa muito mais forte”, “mas porque fui tão cobarde?” “ainda vou a tempo de recuperar?”, “e se aquele era o tal” “tenho de ir recuperar o passado” - e abafam-no, o meu presente agora é uma pequenina flor abafada por ervas daninhas que vou cortando para dar espaço a novas flores, mas a erva daninha prolifera e torna a abafar as flores que vou semeando, impedindo o meu jardim emocional de avançar. O passado foi vivido num período de três meses aproximadamente, escondido, temeroso, ilícito, condenado à partida por não ter sido firmemente construído com alicerces genuínos e verdadeiros, havia sempre a traição, a mentira e o peso na consciência por detrás, todos juntos a fermentar, a conspirar, quando na verdade não éramos vítimas nenhumas, pelo contrário, éramos os conspiradores contra duas pessoas que ficaram na ignorância tempo suficiente para nos odiarem assim que lhes foi revelada a verdade, não nos tendo livrado contudo de nos tornarmos posteriormente vítimas do nosso próprio embuste. Este passado teve momentos bons, sedutores, quentes e promíscuos, felizes, sonhadores com um futuro mais risonho que o então presente, mas foi rejeitado, menosprezado e posto de parte pelo bem, pelo remendo do buraco que ficou na vida de várias pessoas, como se depois de todo o mal feito, alguma coisa fosse mudar. E por aí se ficou essa relação, segui a minha vida, refiz a relação desfeita, tentei colar um coração por mim despedaçado negligenciando o meu, tentei esquecer, ultrapassar, seguir em frente o que não resultou na altura. Até hoje, relação após relação, o fantasma do passado vem acordar-me de vez em quando, inebriando-me rouba-me a paz de alma e leva-me a crer que não estou feliz e aí começa o presente.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Fantasmas no Sótão - Reflexão, parte 2

Nos meus receios, e sendo sobretudo racional, construir uma relação que evolua ao ponto de gerar pequeninas pessoas, pode demorar muito tempo, por vezes demasiado dependendo de factores como a maturidade de cada um, a independência e a situação profissional. Não basta ter trinta e cinco anos para ser maduro, há crianças grandes por todo o lado, tal como não basta ter emprego, é preciso maturidade para saber gerir um ordenado na sociedade consumista e descartável que nos educou. A independência obtém-se com um emprego que permita sair da casa dos pais, o que não é necessariamente sinónimo de maturidade porque há muito homenzinho que sai de casa dos pais para poder viver num pandemónio sem receber ordens de adultos “a sério” e poder fazer festas todos os dias, o que leva a esbanjar todo o ordenado numa semana na pior das hipóteses, tornando-se automaticamente dependente dos pais porque se acabou o dinheiro, ou de instituições de crédito. Há muita gente que vive fora da casa dos pais mas depende deles para pagar a renda ou os estudos, apesar deste ultimo grupo ter condições especiais e não se enquadrar nesta reflexão. Ora, uma criança não se faz do nada, embora haja muita gente que, quase como que por magia, dá à luz uma criança sem ter percorrido o dito caminho espinhoso e cheio de curvas, o que parece bastante prático mas duvido que seja igualmente gratificante. Uma criança deveria nascer de uma relação sólida, e uma relação sólida não se constrói, a meu ver, num ano ou dois. Em quanto tempo uma relação evolui para se tornar sólida o suficiente para poder prosseguir? E se ao fim de um ano se chega à conclusão de que se desperdiçou tempo e a relação que se construiu nesse espaço não tem pernas para andar ou precisa ser reajustada para evoluir? Recomeça-se com uma relação diferente? Recomeça-se com a mesma pessoa mas noutros moldes? E se esse recomeço também não der frutos? Quanto tempo se perde? Tudo isto conta muito quando se é mulher e tem perto de trinta anos e eu perco muito tempo a pensar nisto.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Fantasmas no Sótão - Reflexão

Era apenas um jantar informal de fim de curso com uma turma acabadinha de se formar e colegas da escola onde trabalho, num restaurante de gestão brasileira onde a comida não é servida à mesa mas sim numa zona de self-service, com preço fixo que dá direito a comer até não poder mais. Não estava à espera que fosse tão informal ao ponto de dois colegas meus terem manifestações de afecto publicamente, ainda que subtis não o foram o suficiente para não serem notadas. Ao mesmo tempo sentia uma atmosfera de cumplicidade e secretismo que me era familiar, não tivesse eu tido um romance há cerca de três anos atrás, com um colega de trabalho, o qual supostamente era para se manter secreto, não fossemos ambos membros de relacionamentos de vários anos e como tal, estávamos a cometer um acto ilícito, imoral e condenável à lupa de diversas culturas e religiões, éramos duas meretrizes adúlteras condenadas às chamas do inferno, à fúria do Armagedão, à inveja implacável das funcionárias e outros colegas na altura, apesar de também eles terem esqueletos no armário. Enfim, de secreto penso que teve pouco, começou depressa como se não houvesse amanhã, durou pouco, acabou de repente mas marcou o suficiente para ganhar um lugar de destaque na estante de troféus do sótão, onde hoje permanece com aquele brilhozinho irritante que sobressai mesmo por debaixo da camada de pó que foi ganhando ao longo destes três anos.
Durante a sessão de pratos e copos, por breves instantes, a subtileza dos gestos e olhares, fizeram-me recordar momentos pelos quais passei nesse meu passado condenável e fui-me sentindo um pouco agitada, incomodada até, irritada para ser mais precisa e ao mesmo tempo profundamente triste e arrependida das hipóteses que deixei escapar porque o medo de tentar e falhar me levaram a ficar quieta, refugiada no meu canto, todos estes anos.
A caminho de casa senti-me aturdida por uma carga emocional que chegou a superar o meu lado mais racional - o que podia ser até perigoso porque ia a conduzir sozinha e à noite com o álcool de dois copos de sangria a correr-me pelas veias - reacendendo-se a frustração e a dor de ter perdido algo no tempo e no espaço e não ter feito absolutamente nada por algo que hoje podia existir, hoje ele continuaria a ser o tal se eu tivesse feito as coisas da forma correcta, se tivesse sido correcta com o outro membro do relacionamento legítimo que tinha, se tivesse ouvido os meus sentimentos, se isto e se aquilo, uma família de “ses” unidos que não servem para nada a não ser fazer-me entrar em desespero e mais e mais frustração.
Nessa noite senti-me perdida, uma fraude, faltava pouco tempo para completar um ano de namoro com o meu então namorado e novamente não conseguia seguir para a frente com a minha vida por ser constantemente visitada por este fantasma inoportuno e sádico que me tirava o sono e me deixava os olhos vermelhos e inchados de chorar, qual Madalena arrependida.
Dias mais tarde, a muito custo para ambos, tendo sido ele confrontado com a situação que não era inédita, vendo novamente a minha angústia e confusão e sendo uma pessoa altruísta, embora eu não estivesse à espera, deu-me a hipótese de ir atrás do passado e analisar com olhos de ver as reais capacidades que esse fantasma teria de ganhar forma carnal e existir no meu presente. Eu estava à vontade para remexer no passado e trazê-lo de volta ou enterrá-lo de vez.
Tinha de o fazer, por mim, por ele enquanto pessoa mais lesada com a situação, pelo passado que tantas vezes tentei exorcizar sem sucesso, pelo meu futuro, pela minha felicidade e pela minha estabilidade e saúde mental.
Fantasmas no Sótão - Introdução
Quando era criança não tinha medo do Papão, nem do Velho do Saco nem de Fantasmas. O Gato das Botas era mais forte que eles todos juntos e enfiava-os a todos num saco de farinha para atrair perdizes. Os adultos é que crêem em fantasmas e têm a cabeça cheia de bichos cabeludos que metem medo ao susto, daí que a minha avó paterna tentasse em vão meter-me medo. As crianças estão imunes a isso, como gostava de voltar a ser criança. Inevitavelmente passei do estado larval a adulto e ao contrário de há vários anos atrás tenho muito medo de fantasmas, sobretudo aqueles que vivem dentro do sótão que há na minha cabeça. Aí tenho fantasmas e bichos cabeludos e se procurar bem, devo ter um baú cheio de recordações que só ocupam espaço e fazem lixo, não servem para nada nem sequer são bonitas para enfeitar.